MINA DE OURO PARA O AFTERMARKET?

Texto: Redação
Data: 2 Janeiro, 2018

Tal como sucede (ou sucedeu…) com o mercado automóvel, a China assemelha-se a uma mina de ouro para o aftermarket mundial. Mas, será que estaremos a olhar para uma corrida ao ouro que acabará numa tremenda desilusão?

Não custa muito comparar o que se passa a Oriente com aquilo que sucedeu no século passado durante a corrida ao ouro nos Estados Unidos da América. Não será um “faroeste”, mas a verdade é que o imenso potencial oferecido pelo desenvolvimento do mercado automóvel por aquelas bandas, pode mesmo levar a uma corrida desenfreada para os braços dos chineses. Porém, será que será fácil encontrar ouro neste enorme mercado?

OBSTÁCULOS E PROBLEMAS

Apesar dos anos de crescimento desenfreado do mercado automóvel na China, o aftermarket chinês continua ainda muito subdesenvolvido, apesar de encerrar em si um potencial enorme e reservar oportunidades para quem desejar

aventurar-se por terras chinesas. Porém, quem o fizer terá de despojar-se da sua mentalidade ocidental e perceber que, como refere Robert Zhu, CEO da Wohn Industries e um dos empresários que tem de facilitar a vinda de novos investimentos para a China, “o problema de hoje não é um problema do amanhã na China”. Ou seja, é necessário ter uma mente visionária e reagir de forma certa à velocidade alucinante do mercado naquele país.

Quem pretender entrar no aftermarket na China terá de entender que a juventude e fragmentação do mercado é uma dificuldade adicional a juntar a outras que são típicas dos orientais e a mais algumas que são intrínsecas à forma de trabalhar na China e à forma como o Estado Chinês controla tudo.

Não vale a pena entrar no mercado chinês levando consigo uma organização bem oleada e com todos os conhecimentos bebidos nas universidades europeias, porque isso não irá resultar. Um grande grupo distribuidor de peças norte americano quis entrar no Mercado chinês com a sua oleada estrutura, mas após três tentativas desistiram, arrumaram a tenda e regressaram mais tarde, sem lastro e jogando pelas regras do mercado.

Naturalmente que não há a necessidade de reinventar o negócio, mas há que perceber que, como refere Steve Ganster, autor do livro “The China Ready Company” e profundo conhecedor da forma de funcionar na China, “este é um mercado enorme e com muitas oportunidades.

Porém, não é fácil ganhar dinheiro por aquelas paragens e, muitas vezes, leva algum tempo e não há possibilidade de controlar o negócio à distância, tem de estar pessoalmente envolvido e marcar presença, caso contrário as dificuldades serão imensas.”

PARQUE AUTOMÓVEL AVASSALADOR

O parque automóvel na China ronda os 160 milhões de veículos ligeiros de passageiros e cerca de 7 milhões de veículos pesados, autocarros e outros veículos comerciais pesados. Há, ainda, mais 2,2 milhões de veículos comerciais. Ou seja, contas feitas, são mais de 170 milhões de veículos. Um parque imenso que começa a ganhar idade, pois em 2015 qualquer coisa como 41% dos veículos que circulavam na China tinha entre 0 a 3 anos, mas em 2020 espera-se que 66% do parque tenha já mais de 7 anos de idade. Ora, isto são excelentes notícias para o aftermartket e mostram como as oportunidades vão estar disponíveis para quem as quiser agarrar. Porém, os concessionários locais já perceberam a mina de ouro em que estão sentados e estão focados nas peças e nos serviços, também porque os chineses não gostam muito do “faça você mesmo” e preferem entregar a reparação às oficinas. Portanto, num mercado que vale, neste momento, cerca de 94 mil milhões de euros (qualquer coisa como 600 euros por veículo), as oportunidades são imensas.

IMPOSSÍVEL SEM APOIO LOCAL

Olhando para a floresta, percebe-se que o Mercado chinês tem, mesmo, uma enorme possibilidade de crescimento e de sucesso, olhando ao que tem vindo a crescer e à estimativa que nos diz que 150 milhões de novos consumidores de classe média vão surgir nos próximos dez anos. Existem mais de 170 cidades na China com mais de um milhão de habitantes e, neste momento, a China ocupa o topo da lista de utilização da internet e existem 1,35 mil milhões de utilizadores de telemóveis. Ou seja, além do Mercado automóvel e do aftermarket, a tecnologia está em grande no mercado chinês. E no que toca a esta última parte, os chineses adoram apoiar o desenvolvimento e crescimento das empresas tecnológicas do seu país, mas desejam muito serem vistos com as marcas mais famosas e conhecidas.

Portanto, as empresas mais poderosas no aftermarket podem levar as suas marcas mais conhecidas para o mercado chinês, mas terão de compreender que sem o apoio local dificilmente terão sucesso.

Como referido acima, não é fácil ganhar dinheiro no mercado chinês e sem apoio local é impossível. Por isso, para explorar a verdadeira mina de ouro que é o aftermarket chinês deverá levar a sua marca, o seu conhecimento, juntar um bom grupo de profissionais locais – essencial um excelente advogado chinês – e

preparar-se mentalmente para alguns obstáculos (como a propriedade intelectual que na China é algo pouco respeitado). Com os contactos certos, pessoas que conheçam bem a indústria e os seus players e a mentalidade certa, o sucesso estará ao redor da esquina.

Texto: José Manuel Costa

Artigo publicado originalmente na Turbo Oficina nº 68

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