Num tempo de apreensão sobre o futuro do sector automóvel em Portugal, os resultados anuais da Cometil fazem por resistir à crise económica. Mas esta lança africana pode ser interpretada um pouco mais à letra, afinal de contas, está por meses a sua entrada directa no continente através da porta angolana.
Pedro Jesus recebeu-nos manhã cedo na sede da Cometil, em S. Julião do Tojal, uma pequena freguesia no concelho de Loures. Durante toda a entrevista falou-nos orgulhoso daquele espaço, uma estrutura de grandes dimensões, como quase todas naquela zona industrial, mas subitamente desigual, pois naqueles tantos vidros exteriores, quase espelhados, reflectiam-se uns tímidos raios de sol.
Daqui por dois meses, algures na primeira semana de maio, contou-nos ainda no showroom térreo da Cometil, a pequena empresa criada no seio da família Jesus vai celebrar 28 anos de existência. Até erguer a Cometil, o seu pai havia sido durante largos anos responsável técnico da Volkswagen, uma experiência que traçou desde cedo a posição da empresa neste competitivo mercado. “Quando a formação surge em primeiro lugar, quando disponibilizamos aprendizagem teórico-prática numa indústria [automóvel] em constante mudança, os clientes procuram-nos quase naturalmente”.
Aquela imagem de pequena empresa familiar alterou-se desde então, cresceu para norte, onde inaugurou a Cometil de Sto. Tirso, tornou-se uma referência nacional, hoje representante oficial de alguns gigantes internacionais do sector, mas certas ideias – talvez demasiado inovadoras naquela época, afinal, quase nenhuma oficina procurava informação técnica e poucos mecânicos recebiam formação em material homologado pelas marcas – acabam por resistir à passagem do tempo.
O indispensável serviço pós-venda, tal como a formação dos seus clientes, ambos de proximidade, ambos de resposta imediata, fazem desta uma empresa diferente entre iguais, num sector onde há cada vez mais oferta, sobretudo vinda do mercado chinês. Talvez por acreditar cegamente neste conceito de negócio inovador, confidenciou-nos o director-geral, agora sentados numa das salas no piso superior, onde mensalmente – pelo menos uma vez, mas podem ser mais – há formação técnica para clientes da empresa, as vendas da Cometil tenham crescido neste período de instabilidade económica, um crescimento sustentado, garante-nos, quando alguma da concorrência, neste exacto período, decresceu internamente.
Ao longo desta reportagem, não importa esmiuçar o porquê destes maus resultados generalizados, mas compreender o desenvolvimento galopante na Cometil. Por entre recordes nos exercícios anteriores, houve um ligeiro abrandamento deste ritmo no último ano. Talvez um reflexo da situação portuguesa. “Se este novo ano for igual, apesar da crise, apesar de tudo, dou-me por completamente satisfeito”.
ANGOLA: UMA PORTA ENTREABERTA
Pedro Jesus garante-nos que tudo começou, indirectamente, quando algumas empresas nacionais decidiram investir nos países lusófonos. “Os nossos clientes de sempre encaminham-nos nestas aventuras. Querem-nos como fornecedores naqueles países”.
Erguer uma sede própria em Angola, centro financeiro do mundo lusófono em África, está nos horizontes futuros da Cometil. O maior obstáculo chama-se mão-de-obra. “Em qualquer lugar do mundo, os trabalhadores fazem a imagem das empresas. Esta ausência de mão-de-obra angolana dificulta-nos a entrada, claro que sim, mas agora que existe um formador nosso em Angola, um homem da minha total confiança, talvez consiga abrir um espaço naquele país durante este ano”.
Todos aqueles Kwanzas angolanos podem trazer receitas suplementares à Cometil, mas de saída, enquanto pousava – algo desconfortável – em frente da nossa objectiva fotográfica, Pedro Jesus garante estar totalmente focado… no mercado nacional.
UMA EMPRESA LIGADA EM REDE
Não é uma rede informática. Antes pelo contrário. O actual site da Cometil, explicou-nos Pedro Jesus, até ficou algo adormecido nos últimos tempos. A empresa lisboeta trabalha actualmente com algumas das maiores redes nacionais, de facto, mas estas redes navegam sobretudo por entre reparações automóveis. “Não quero esquecer-me de ninguém. Hoje somos fornecedores das redes CONFORTAUTO, EUROMASTER, FEU VERT, FIRST STOP, MIDAS, NORAUTO, ROADY e VULCO”. Nenhuma ficou para trás nesta contagem. Antes, tinha as casas de pneus como fim. Hoje, a Cometil ligou-se às redes para chegar mais adiante.
REPRESENTAR OS MELHORES
“Por ordem de chegada, vamos dizer assim, surge primeiro a HUNTER, que está connosco desde a primeira hora, depois a OMER, uma marca de elevadores, mais tarde juntaram-se também CEMB, HAWEKA e BUTLER, hoje pertença do grupo Ravaglioli, ainda os elevadores de colunas ROTARY, logo depois K-MAC, FILCAR, esta última na exaustão de gases, SCHRADER, importante nos consumíveis de pneus, também HAZET, nas ferramentas, a nossa entrada mais recente”. Por entre tantas marcas de referência, Pedro Jesus nem admite vender produtos de menor inferior. “Sabe? As marcas chinesas procuram-nos”. Responde-lhes na volta do correio: não, obrigado!