Gestão de resíduos. Todos aprovados com distinção e louvor


Data: 28 Fevereiro, 2013

Os resultados do último ano nos diversos setores e sub-setores da indústria automóvel nacional acabaram por trazer mais dúvidas que certezas sobre o futuro próximo. Algumas sociedades gestoras de resíduos, apesar de tudo, vêem nesta realidade uma oportunidade de crescimento. O número de veículos abatidos, baterias recolhidas e óleos enviados para regeneração acabou por reflectir esta tendência.

Os anos negros das entidades gestoras, nos quais se verificavam decréscimos acentuados na actividade destas, podem ter chegado ao final. Quem trabalha diariamente neste sector, apesar da situação económica débil sentida um pouco em toda a parte, não ficou admirado pelo crescimento do último ano.

A velha indústria automóvel, desde sempre geradora de riqueza em Portugal, está completamente diferente. Existem cada vez menos veículos a circular neste país alcatroado de norte a sul. Quem trabalha nas oficinas vê decair abruptamente o número de clientes. O mais jovem parque automóvel europeu ganhou largos anos de vida. Tornou-se velho entre os mais velhos deste velho continente. Nada ficou como dantes.

Quem faz gestão de resíduos, sobretudo de óleos e baterias usadas, soube aproveitar esta nova realidade. Encontrou na legislação ambiental, que obrigada todos os produtores de resíduos a entregarem-nos junto de operadores licenciados, uma forma de alertar cada vez mais gente para uma realidade outrora desconhecida.

O abate de veículos em fim de vida também cresceu, apesar de tudo, apesar de cair por terra o incentivo estatal, também soube aproveitar como nenhum outro este período, no qual cada vez mais portugueses entregam os veículos em centros de abate, incapazes de suportar impostos, manutenções e sucessivos aumentos no preço dos combustíveis.

A revista Turbo Oficina faz agora uma revista do último ano junto destes vários operadores, mas aproveita também a conversa para lançar um olhar sobre o futuro. Um futuro ainda mais verde, esperam todos eles.

ÓLEOS E BATERIAS: UMA APOSTA NA CONTINUIDADE

Fernando Moita, director-geral na GVB, uma entidade gestora que controla a recolha, gestão e valorização de baterias usadas, diz-se satisfeito pelos resultados alcançados durante este ano. “Mas o trabalho dos últimos três anos está longe de ficar agora concluído”. Certo é que neste período conseguiu aumentar em 40 por cento o número de produtores aderentes ao Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Baterias e Acumuladores.

Estes novos produtores foram responsáveis pela colocação no mercado nacional – Portugal Continental, Região Autónoma da Madeira e Região Autónoma dos Açores – de quase 7.500 toneladas de baterias e acumuladores. No final do ano passado, quase 5.800 toneladas destes resíduos, um valor a rondar os 92 por cento do fixado na licença desta entidade, foram entregues nos operadores daquela rede.

Quanto à estratégica desta sociedade gestora para o ano que agora começa, o enfoque maior volta a estar no fortalecimento das suas relações com os atuais produtores, mas igualmente na procura de novos intervenientes na gestão resíduos. “Ao integrarem a rede já existente, os novos produtores vêm contribuir para o aumento da recolha”, conclui.

Também o gerente da SOGILUB, Aníbal Vicente, a propósito dos resultados do último ano, garante-nos que estes corresponderam às suas melhores expectativas, apesar da ligeira quebra evidenciada na venda de óleos. “O mercado de óleos novos, como tal, geradores de óleos usados, caiu quase 13 por cento no último ano”, explica-nos.

Por sua vez, a taxa de recolha subiu nove por cento, tendo alcançado um novo máximo de 85 por cento. Neste balanço anual vale também a pena dizer que a taxa de regeneração, o destino mais nobre da valorização, subiu mais de 14 por cento, enquanto a quantidade de óleo usado enviado para regeneração, pela primeira vez, foi superior à quantidade enviada para reciclagem. Aníbal Vicente é taxativo. “Estes resultados elucidam-nos sobre o eficaz funcionamento do Sistema Integrado de Gestão de Óleos Usados”.

O responsável pela SOGILUB não acredita num decréscimo para este ano. Mas deixa um sério alerta. “O consumo dos lubrificantes é directamente proporcional à actividade económica. Como todos sabemos, quanto à retoma da nossa economia, não há previsões otimistas”.

Alguns operadores podem mesmo deixar a rede, mas outros podem estar na calha para entrar. “Isto apenas é possível através da sensibilização e informação, algo que a Sogilub tem vindo a fazer ao longo dos anos de forma contínua, sustentada e no fiel cumprimento de todos os requisitos legais”.

VEÍCULOS EM FIM DE VIDA: INCENTIVOS PRECISAM-SE

Ricardo Furtado, director-geral da rede VALORCAR, não teme a crise económica. Garante-nos ter havido um crescimento de 12 por cento no último em relação ao número de veículos abatidos. Os anteriores recuos, que duravam à quase três anos, estavam directamente ligados ao decréscimo no comércio de veículos novos. “No último ano houve um ligeiro aumento, mas deveu-se sobretudo a novos factores”.

Junto dos centros de abate da rede Valorcar, Ricardo Furtado soube que muitos condutores entregam os veículos para reduzir despesas, uma percentagem que deve rondar atualmente os 76 por cento, talvez nem todos cheguem pela mesma razão, mas todos procuram reduzir encargos o quanto antes. “Mas o incentivo ao abate de veículos em fim de vida, ou melhor dito, a falte dele também teve influencia nestes resultados”, adianta.

Este incentivo do Estado português – que chegou ao fim em 2010 – chegou a representar quase 30 por cento das entregas na rede Valorcar. “Não qualquer dúvida. É necessário rejuvenescer o parque automóvel. Como? Através destes programas de incentivo”. O seu regresso, garante o director-geral da Valorcar, não deve ter qualquer impacto negativo nas receitas do estado. Antes pelo contrário.

“Verifica-se de facto uma redução nas receitas directas com imposto automóvel, no entanto, surgem dinamizadas uma série de impostos indirectos que se propagam ao longo de toda a cadeia dos veículos. Há mais vendas, há mais abate. Todos pagam impostos”, explica.

Quanto ao novo ano, Ricardo Furtado garante ter uma vantagem em relação às restantes entidades gestoras, pois as estatísticas dos veículos abatidos na sua rede chega-lhe quase ao minuto. “Já tenho janeiro fechado. Os resultados estão ao nível de 2012. Talvez consiga dizer-lhe, se nada de inesperado acontecer, que vai haver novo aumento”. No último ano a rede valorcar abateu quase 56 mil veículos.

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